“Salcity, cidade do sal…”
Foi com esse verso que Tícia, cria da Cidade Baixa em Salvador, começou a conquistar o carinho da cena local com uma música que se tornou, de pouco em pouco, um sucesso orgânico nos rolês da cidade. Recentemente, a artista lançou seu primeiro EP através do selo Batekoo Records. Neste trabalho estão reunidas as canções “Salcity”, “Fogo”, “Retada” e “Nego”, sendo as duas últimas inéditas.
“É muito bom ver a minha música rodando. Essa foi a primeira música que eu escrevi há cinco anos atrás e ver que ela realmente bateu depois de anos e as pessoas considerarem um hit na cidade, as pessoas se identificarem com a letra, com o clipe e a narrativa da música pra mim é muito impactante, de verdade. É o que faz o meu trabalho fazer sentido”, comenta Tícia sobre o sucesso de “Salcity”, em entrevista exclusiva ao Amores Sonoros.
“Sagrada e Profana” é um trabalho que imprime muito do que conhecemos da artista a partir do primeiro single, uma mistura interessante do que a cena soteropolitana tem vivido. Sem dúvidas a mescla de ritmos atuais, mantendo a essência do que foi deixado pelos ancestrais é algo interessante de se ver, o que acontece brilhantemente na faixa “Nego” que busca elementos do ijexá. “Retada” chega também nessa mesma pegada, com uma mistura de dancehall com elementos do samba reggae.
“Nego é baseado em uma história real mesmo, foi um momento de bastante sofrimento, agonia, eu estava realmente triste, estava dentro desse processo de desilusão, de questões afetivas”, disse Tícia.
“E “Retada”, eu queria trazer uma vibe que lembrasse a Koffee, da Jamaica, que é uma artista jovem e eu queria trazer uma referência dela. Trazer uma coisa meio Jamaica, mas Salcity. Falar sobre nossos contextos, nossos lugares, nossa forma de se movimentar, mas com referência do reggae, do ragga, da música jamaicana”, completou a artista.
O movimento musical preto e periférico de Salvador tem tomado proporções cada vez maiores, e cada vez mais rápido. A cidade age como um organismo vivo de arte e cultura por todo o canto, e a resolução desses movimentos da metrópole dão o tom também para o título do trabalho de Tícia. “Sagrada e Profana” nada mais é do que o resultado disso.
“Como eu sou de Salvador não podia ser diferente, ele mescla essas coisas também, assim como Salvador. Essa fusão do sagrado e do profano e eu acho que é essa a relação entre a cidade, a música e mim mesma, sabe?”
O futuro segue fluindo e se transformando, às vezes fora do ritmo em que a cidade pulsa. Contudo, Tícia revelou que pretende continuar rodando com o EP, mas também tem o desejo de lançar diversas parcerias com artistas locais e de fora, circular pelo Brasil com a sua arte, e quem sabe começar a pensar num vindouro álbum, e não parar de produzir.
O conselho de sempre deste colunista que vos escreve é: olhos atentos no que acontece na cena da sua cidade, ela sempre vai te surpreender nesses corpos pulsantes. Olho em Tícia e no que ela irá produzir daqui pra frente.
0 comentário em “Salcity que pulsa cultura, mostra as suas filhas; Entrevista com Tícia”