Em março de 2022 chegou até os meus ouvidos o EP de uma mulher do interior do estado, que morava em Salvador há algum tempo. Estudante de psicologia, cantora e compositora, Mariana Alves, ou melhor, MARÍ ALVES em letras maiúsculas mesmo, é visceral e intensa tanto na voz quanto nas composições. A artista conversou conosco sobre os anseios e dificuldades de ser uma artista do interior na capital.
O EP “Viúva Negra” reúne cinco faixas que tratam do início ao fim de uma típica relação: do desejo de domínio e sedução ao superar inteiramente, já no flerte com o futuro. Com referências sonoras que partem do Trip Hop, do Dark Pop ao experimental. Recentemente o projeto foi selecionado pela rádio Educadora FM para o “Selo Educadora FM Independente”. A partir disso, MARÍ desenvolveu uma session com as músicas presentes em seu EP.
Quando questionada sobre o processo de escrita das músicas do EP, a artista comenta que “As primeiras faixas foram O Dia Que Você Mergulhou e Só Um Mês, elas foram construídas em momentos reais meus, assim que eu estava vivendo algumas decepções amorosas, um processo de luto. Em um belo dia eu estava na terapia e acabei entrando em contato com uma parte minha que eu não queria entrar, que eu evitei entrar por muito tempo. Eu sou um ser humano e de que às vezes o meu lugar nos afetos é só sustentar, segurar, dar suporte, acolher, ser passiva e “Viúva Negra” surgiu num momento desse que eu percebi que eu também tinha um potencial destrutivo, mas que existia em mim uma força capaz de se movimentar. E aí veio a música inteira!”.
Nesse caso, a figura da Viúva Negra manifesta-se como alguém disposto à vingança, à superação, ou entregue ao ciúme, ao desejo, ao sentimento de rejeição, ou simplesmente retrata investimentos amorosos mal sucedidos. Enquanto Viúva Negra, se nasce e morre; também mata o seu objeto de amor – por vezes seguidas, quando o tema é entregar-se.

A novíssima cultura dos singles tem mudado a dinâmica em que o público tem consumido música ao redor do mundo, principalmente para artistas independentes que não tem tantos recursos e um apoio público eficaz. MARÍ ALVES, por exemplo, cresceu nos anos 2000 junto com as divas pop como Katy Perry, Lilly Allen, Beyoncé, Lady Gaga e etc. “Eu sou da escola do pop mesmo e eu vejo muito disso nas pessoas de Irecê [interior da Bahia] e os artistas independentes de lá tiram leite de pedra, fazendo coisas muito boas, muito completas. O sertão é pop!”, pontua a artista.
“O fato de Salvador ser um pólo de artistas, mas ter tão pouco investimento, tão pouco patrocínio, tão pouca circulação do capital muitas vezes obriga os artistas a quererem melhores condições de vida”
É dentro dessa perspectiva de sempre pensar a música atrelada à imagem, justamente como a máquina da música pop funciona é que MARÍ irá fazer dois shows no Teatro Gamboa, neste final de semana. No dia 17 presencialmente apenas para convidados, mas com transmissão online para todos e no dia 18 aberto ao público. Os ingressos estão disponíveis no site do teatro ou diretamente na bilheteria custando R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia).
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