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Faixa a Faixa: EP “Novo Homem”, de Arthur Martins

Foto: Lucas Santos

Arthur Martins faz um passeio plural pelos ritmos regionais em um EP de estreia onde as raízes da música brasileira pulsam. Passeando entre o sagrado e o profano, o carioca vai da percussão baiana dos blocos afro, o samba-rock do Rio de Jorge Ben e Seu Jorge, e desemboca no samba-reggae e no ijexá. “Novo Homem” é a declaração de um artista que chega no cenário sem abrir mão de refletir suas origens.

“Novo Homem” reflete as mudanças pessoais que inspiraram a composição das três faixas. “As músicas foram compostas no fim de 2019, em meio a grandes transformações pessoais, que ditaram o conteúdo das canções. Embora não haja unidade temática, todas elas buscam tratar os temas de forma muito visceral e sincera”, admite Arthur.

Faixa a Faixa por Arthur Martins:

01) Estrada Real

Compus “Estrada Real” no início de um relacionamento, provocado por uma paixão arrebatadora. Quis cantar sobre como sinto o amor como uma vocação irrecusável – se se pode escolher ir à Roma, já que todos os caminhos nos levam à Cidade Eterna, deve-se sempre preferir ir em direção ao amor. Comparo o amor à uma estrada, porque, apesar de tratarmos erroneamente o amor como um ponto fixo – a forma meramente contratual do amor nas sociedades contemporâneas -, ele sempre será melhor vivido se for um movimento e um caminho. E já que o amor é uma estrada, quis compará-lo com a grande estrada romana Via Appia, que possuía a alcunha de regina viarum, ou seja, estrada real.

Eu amo a tradição romântica brasileira de colocar nome da mulher na canção. Na minha cabeça, Jorge Ben e Bebeto são os maiores nisso. Mas amo também os recentes sucessos do brega que cantam Letícia e Rita. Quis reproduzir isso e gosto de cantar o nome Bianca na canção.

Eu imaginava que a canção seria mais samba-rock que qualquer outra coisa. Mas notei que os caminhos que tomei na composição e na ideia de arranjo me levaram inevitavelmente a assumir a canção como um samba-reggae. Pedi inicialmente ao Tiago Nunes que gravasse apenas uma linha de timbal, mas ele se ofereceu carinhosamente para refazer todo o arranjo percussivo da canção. Fiquei muito orgulhoso com o arranjo que produzimos conjuntamente. 

Nessa música eu quis soar como o “Livro” do Caetano Veloso, o grande disco-referência deste EP. Há, porém, a presença de Rhodes, Clavinet e Prophet que abrilhantam a canção e trazem um sotaque diferente ao arranjo.

Quem fez o arranjo das cordas foi André Luiz Pinto, a quem eu agradeço demais.

(2) Novo Homem

Foi a primeira canção composta para o EP e também foi composta no início do relacionamento – o mesmo que serviu de motivo para “Estrada Real”. Também coincidiu com o meu retorno definitivo à religião em que cresci, o cristianismo.

Li recentemente um texto de Pierre Hadot – que Foucault soube ecoar – que falava sobre as noções gregas de metanoia e epistrephó, que significam, guardadas as diferenças entre os termos, processos de conversão. E percebi que, apesar desse papo parecer careta de um ponto de vista religioso hoje, todos nós meio que estamos às voltas com o desejo de nos tornar novas pessoas – as descobertas sobre gênero, o lema quasi-ético “seja você mesmo” e a cultura do cuidado excessivo com o corpo certamente são prova de que estamos a todo tempo querendo mudar algo em nós mesmos. 

Mas na canção “Novo Homem” tento pensar as condições (ou critérios) para essa mudança de vida. Primeiro, que é preciso tanto saber fechar velhas portas quanto ter coragem de abrir novas. Segundo, que a boa mudança é fruto de um encontro com uma alteridade radical, que na canção chamo de Pai (“tudo isso eu aprendi com o Pai”).

Acho a produção dessa canção especialmente bonita. Ela mistura percussão orgânica e beats, que conversam e sugerem o trap. O arranjo de percussão, assim como todos os arranjos de percussão do EP, foram compostos por Tiago Nunes. O arranjo de metais foi feito por mim e a segunda parte da canção, quando os metais entram, é lindíssima.

Menção mais que honrosa ao João Loroza, que gravou um solo de guitarra para o final da canção, a força que ele deu à música foi incrível. 

3) Preciso Gritar

Compus essa canção voltando de um date mal-sucedido. O que poderia ser facilmente encarado como mais um “fora”, se juntou à consciência de uma depressão que me assolava há algum tempo e que eu só conseguia sentir agora. No ônibus, eu iniciei com o verso “meu coração está sofrendo tanto” e o resto veio como enxurrada, culminando no refrão que é um verdadeiro pedido de socorro.

Chamei meu parceiro Ninguém para gravar a voz e Lucas Mendes para gravar o cavaco. As participações caíram como uma luva. 

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