Foto: Edgar Azevedo
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Conheça o coletivo AfroBapho e o laboratório digital de artes integradas AFROBAPHOLab

Foto: Edgar Azevedo

No dia 28 de junho o Coletivo Afrobapho lançou o ‘AFROBAPHOLab: Bahia is Burning’, um grande laboratório digital de artes integradas, que foi composto por rodas de diálogos, imersões artísticas e pocket shows, com o objetivo de visibilizar as produções de artistas independentes de Salvador, o evento aconteceu de 13 a 15 de agosto, com o patrocínio da Natura Musical e do Governo do Estado da Bahia, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.

Foram dois meses com diversas ações e entregas, como o lançamento de uma plataforma digital com mais de 200 artistas negros LGBTIA+ do Nordeste, mapeados e cadastrados, e uma websérie, que contou em cinco episódios como a história do Coletivo Afrobapho está intimamente ligada à manifestações políticas e sociais, em defesa dos Direitos Humanos, contra o racismo, LGBTfobia e outras opressões.

Com toda essa potência aflorando, convidamos o Alan Costa, idealizador do coletivo para bater um papo exclusivo sobre o AfroBapho e o seu laboratório digital, confira!

Foto: Edgar Azevedo

Amores Sonoros: Oi Alan, que bom ter você aqui, obrigada por aceitar o convite. A primeira pergunta é a mais clichê de todas, como surgiu o coletivo AfroBapho?

Alan Costa: O Afrobapho surgiu em novembro de 2015, como um grupo de discussão no Facebook, voltado para discutir sobre intersecção de raça, gênero e sexualidade. Naquele ano, o Facebook estava tomado por textos que debatiam inúmeras questões sociais. Por conta disso, eu criei um grupo para dialogar com pessoas negras LGBTIA+ que compartilhavam experiências e vivências similares na sociedade. Os debates foram tão ricos, que percebi que aquelas ideias deveriam ser divulgadas para além daquela rede social. Daí conheci Teodoro e Malayka SN, drag queers da cena de Salvador, que me ajudaram a colocar em prática a narrativa do Afrobapho enquanto um coletivo social. Percebemos que a melhor forma de dividir conhecimento e sensibilizar as pessoas sobre pautas importantes seria através da arte – que geralmente é uma ferramenta potente que chega para todos os públicos. 

A partir daí, começamos a pesquisar e produzir conteúdos para falar sobre racismo, estética negra, valorização de corpos dissidentes, dentre outras temáticas. Nossas produções fotográficas e audiovisuais, alinhadas ao discurso de defesa dos direitos humanos começaram a conquistar admiradores, com isso passamos a ocupar não só as redes sociais, mas jornais, revistas, programas de TV, eventos em Salvador. E estamos até hoje, produzindo e evoluindo cada vez mais. Vamos completar 6 anos de existência em novembro deste ano. As nossas atuações em Salvador começaram com intervenções urbanas em espaços conhecidos da cidade, que viraram nossos projetos audiovisuais. 

Com o sucesso, começamos a produzir a nossa própria festa, com o objetivo de valorizar e visibilizar a arte independente de pessoas pretas e LGBTIA+. Hoje temos 17 integrantes oficiais, mas costumamos colaborar com diversos outros artistas, que consideramos parte da família. Colecionamos colaborações e parcerias com artistas nacionais, participação em eventos de arte e cultura renomados, além de uma vasta trajetória de aparições em matérias de imprensa regionais, nacionais e até internacionais.

Amores Sonoros: E como surgiu a ideia de criar o AfroBaphoLAB?

Alan Costa: Como mencionei acima, o Afrobapho é formado por 17 artistas independentes, com dissidências de raça, gênero e sexualidade. Nesses 6 anos de caminhada, apesar de todo reconhecimento midiático e nas redes sociais, sempre fomos invisibilizados no contexto de produção cultural e artística da Bahia. Os grandes eventos não nos convidam para fazer parte de suas line up. A maior parte dos convites vinham de fora do circuito baiano – mas infelizmente muitas negociações ficavam no meio do caminho, por conta da logística de locomoção. Tudo isso nos fez refletir que deveríamos começar a disputar as narrativas de editais e investimentos em cultura do Estado. Enegrecer e diversificar esse lugar de produção de cultura e arte, que tem sido monopolizado por pessoas brancas, cisheterossexuais. Assim, um dia antes de encerrar as inscrições do Natural Musical 2019, eu decidi enviar um projeto apenas como teste, pra já ir trabalhando minha escrita nesse sentido. Em menos de 24 horas surgiu o Afrobapholab, que pra minha surpresa e felicidade foi um dos projetos selecionados daquele ano.

Amores Sonoros: Como foi para vocês como coletivo independente elaborar um projeto para um dos maiores editais do Brasil?

Alan Costa: Eu sempre achei incrível como o Edital do Natura Musical proporcionou vários dos meus melhores rolês e álbuns favoritos, de artistas e coletivos independentes. Mas nunca imaginei estar nesse lugar de disputar uma das vagas. Quando eu escrevi, realmente não esperava que de primeira conseguiria explicar um projeto. Mas depois dos feedbacks que tive, eu realmente comecei a entender que o Afrobapho já era uma grande potência, respeitada e admirada por muita gente do meio de Cultura e arte do Brasil. Já tínhamos o reconhecimento por nossas narrativas criativas. Só faltava mesmo a coragem de botar os projetos no mundo. E estrear no mundo dos editais em um dos maiores do mercado com certeza foi uma grande validação para nós enquanto produtores e agitadores culturais. E a melhor parte é que em 2020 também aprovamos mais um projeto no Edital nacional de Natura Musical, junto com a Coletividade MARSHA!

Amores Sonoros: O evento que aconteceu no último final de semana teve diversas linguagens artísticas, mas o que nós queremos saber mesmo é da parte musical, como foi feita essa curadoria?

Alan Costa: A curadoria da parte musical do AFROBAPHOLAB foi feita em 2019, quando tivemos que inscrever o projeto também no Fazcultura do Governo da Bahia. Naquela época, a cena independente de música baiana estava vendo nascer nomes como Nêssa, Nininha Problemática, Maya e DICERQUEIRA. Então o nosso objetivo era dar mais visibilidade para essa galera talentosa. O AFROBAPHOLAB aconteceria presencialmente, em seu formato original.  Então imagina como seria babadeiro esse evento? 

O nome de Ventura Profana (que também é baiana) estava sendo sugerido desde o início, mas ainda não era certo. Estávamos à mercê das agendas daquele contexto. Mas felizmente conseguimos fechar com ela. Queríamos mostrar justamente uma artista potente, que não corresponde aos padrões sociais e até musicais estabelecidos. Ventura Profana com certeza foi a melhor escolha para encerrar de forma apoteótica. Todos os artistas que passaram pelo AFROBAPHOLAB fazem parte de um círculo afetivo da trajetória do Afrobapho nesses 6 anos. 

Amores Sonoros: Você tem um show preferido do AfroBaphoLAB?

Alan Costa: É uma pergunta difícil, pois eu realmente me senti muito feliz com todas as apresentações. Quando eu realmente consegui ver todo nosso esforço indo ao ar,  fiquei emocionado e orgulhoso demais. Principalmente por poder ceder um pouco do espaço que conseguimos para projetar artistas tão incríveis. Mas eu posso dizer que o show da Ventura Profana foi o que me arrepiou do início ao fim. Desde o dia que gravamos, eu fiquei estarrecido com tamanha força. Eu fiquei esperando sair o áudio oficial pra ficar ouvindo durante todo esse tempo antes do lançamento.  E quando o vídeo ficou pronto, eu tinha certeza que realmente era um show pra fechar com chave de ouro e ficar na memória de todas as pessoas que assistissem.

Amores Sonoros: Já tem novos projetos em mente?

Alan Costa: Durante esse contexto de pandemia, tivemos que ‘brecar’ alguns projetos. Esperamos que em breve possamos retomar com todos eles. Mas posso dizer que ainda esse ano temos mais um projeto do Edital Natura Musical para executar. Em parceria com a Coletividade MARSHA (SP), vamos lançar em breve o CIRCUITO ARTI. Aguardem para mais informações. Queremos fechar o ano com mais uma produção icônica. Hahaha.

Assista as apresentações musicais do evento final do AFROBAPHOLab.

Sobre Ana GB

Ana GB é relações-públicas e produtora “universal” porque ela mete a mão na massa em qualquer projeto, trabalha no mercado cultural de Salvador desde 2016, é cofundadora do @amoressonoros, portal brasileiro focado na música preta e independente, estrategista digital na Bem Sonora, agência especialista em comunicação digital para artistas e projetos culturais. Artist Manager e Assessora de Yan Cloud e Rachel Reis.

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