Eu raramente me apaixono, o que acontece na verdade são aquelas ficadas e nada mais…
Claro que me refiro a música que consumo diariamente. Para o quase extinto jornalista musical, é muito comum dar essas passadas breves em muitos artistas durante o seu dia a dia de trabalho. Escuto um pouco de tudo, sem nenhum preconceito, mas existem poucos que realmente arrebatam e conversam diretamente com a gente. Então, entre essas andanças eu me apaixonei por “Nebulosa Baby”, o novo disco de Giovani Cidreira, que agora assina apenas como GIO.
É um produto completo, musicalmente rico, com letras sensíveis e fortes que se complementam ao longo dos seus 40 minutos. Além disso é também álbum visual, e rouba a cena com a plasticidade e referências da ancestralidade do próprio artista, fora o afrofuturismo abordado nesse contexto afro diaspórico em que estamos tão inseridos.
O disco foi lançado no final de julho e tem a sagacidade e o feito de reunir boa parte da cena independente do país. Jup do Bairro, Jadsa, Josyara, Luiza Lian e Vandal são nomes que compõem o disco. Essas misturas e referências marcam a pluralidade de um álbum que já se mostra grandioso desde a sua concepção.
Na websérie, Gio aborda que esse disco tem endereço, e ele está direcionado a meninos e meninas pretas da periferia, que tem seus sonhos dilacerados no dia a dia. E como jovem periférico preto, que luta todos os dias por aprovação na família, no trabalho e nos espaços, “Nebulosa Baby” conversa diretamente com este colunista que vos escreve.
Em suma, Gio consegue acessar memórias de jovens pretos que podem sonhar e precisam sonhar, como ele mesmo fez durante a sua carreira. É um disco sobre ele e suas vivências, mas também é um disco sobre nós. E são essas entrelinhas, essa capacidade de comunicar uma ideia que me deixam apaixonado, contudo isso raramente acontece… em “Nebulosa Baby”, aconteceu e promete ser um relacionamento duradouro.
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